sexta-feira, 22 de junho de 2018

Perdoando Deus

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade.
Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.
E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.
Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.
Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.
... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.

Texto de Clarice Lispector publicado no Jornal do Brasil em 19/9/1970 e depois no livro "A descoberta do mundo".



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Na Estrada: você está lendo isso errado

O livro Na Estrada, de Jack Kerouac, é um dos clássicos mais deslidos de todos os tempos. Você pensou que era uma celebração da estrada? Pense de novo [...]. Na Estrada é um clássico da literatura universal justo por não ser apenas isso. [...]
A intenção de Kerouac provavelmente era sim fazer uma celebração da estrada. Se tivesse sido bem-sucedido, provavelmente não estaríamos falando dele hoje.

Porque todo grande livro é mais inteligente que seu autor. Toda grande obra contém em si o seu próprio contradiscurso. Toda grande narrativa sempre se constrói em torno de uma fratura estrutural que ameaça lhe demolir.

É essa tensão que atrai os leitores, que nos faz voltar ao livro, sempre renovados [...]. Só os livros que causam esse tipo de engajamento conseguem sobreviver de uma geração para a outra, e se tornarem clássicos.
Então, por um lado, “Na Estrada” é a história de Sal Paradise, um escritor certinho de Nova Iorque, que encontra o malucão Dean Moriarty e sai loucamente com ele pelas estradas da América do Norte. É a celebração da estrada, um elogio à liberdade, um chamado para que todos saiam de suas casas e sumam por aí.
Mas, por outro lado, é exposição progressiva e sistemática desse exato contradiscurso.
Apesar de idolatrar Dean, até mesmo Sal vai percebendo que ele é um canalha, egocêntrico, narcisista que só se preocupa consigo mesmo; que usa as pessoas como se fossem objetos – carteiras, especialmente; que não tem pudor nenhum em descartá-las quando lhe dá na telha.
Ao longo do livro, várias pessoas, inclusive o narrador, são atraídas pela energia e força vital de Dean… até perceberem que essa energia e força vital estão sendo sugadas delas: como um vampiro, Dean se alimenta dos seus fãs. Suga até o caroço e depois cospe fora.
Por isso, Sal diversas vezes larga a estrada e volta para Nova York, para a saia da mãe, para o ambiente familiar e seguro onde pode viver e trabalhar. A estrada pode até ser boa, parece dizer o livro, mas não por muito tempo [...].
Até que, mais uma vez, Sal fraqueja, fica de pau duro por Dean, ambos pegam a estrada, Sal quebra a cara e volta pra Nova York.
[...] Mas o livro só termina mesmo quando Sal finalmente supera Dean.

É sempre interessante reparar onde as narrativas começam e terminam, pois essas balizas nos revelam qual é a história sendo contada – algo nem sempre óbvio. 
Na Estrada começa com Sal encontrando Dean e termina no momento em que ambos se esbarram na rua, em Nova York. Dean chama: “vem”, e Sal, escaldado, responde: “não, obrigado, estou com amigos, a gente se vê.”
Em literatura, tudo é contexto. Então, cabe ressaltar que essa cena não é mostrada como a derrota de Sal ou “vejam como Sal ficou careta, a vida o derrotou”, “o bobão do Sal ficou pra trás, enquanto Dean ganhou o mundo”, etc.
Pelo contrário, o que a cena mostra é: Dean está só, depois de passar a vida usando e abusando de todos; e Sal, nosso alter-ego, está sábio o suficiente para não mais se deixar vampirizar.
E, nesse momento, termina o livro.
Ou seja, Na Estrada não é só uma celebração da estrada [...], mas também a história do amadurecimento de Sal Paradise.
De como ele finalmente aprendeu a dizer não.


Por Alex Castro, em 19/08/2012 no site Papo de Homem.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"- Eu me prometo para um dia este mesmo silêncio, eu nos prometo o que aprendi agora. Só que para nós terá que ser de noite, pois somos seres úmidos e salgados, somos seres de água do mar e de lágrimas.
[...]
Somos criaturas que precisam mergulhar na profundidade para lá respirar, como o peixe mergulha na água para respirar, só que minhas profundidades são no ar da noite. A noite é o nosso estado latente. [...] Na noite a ansiedade suave se transmite através do oco do ar, o vazio é um meio de transporte.
[...]
Não suportei mais e estou confessando que já sabia de uma verdade que nunca teve utilidade e aplicação, e que eu teria medo de aplicar, pois não sou adulta bastante para saber usar uma verdade sem me destruir.
[...]
Pois em mim mesma eu vi como é o inferno.
[...]
O inferno é a boca que morde e come a carne viva que tem sangue [...], o inferno é a dor como gozo da matéria [...]. A aceitação cruel da dor, a solene falta de piedade pelo próprio destino, amar mais o ritual de vida que a si próprio - esse era o inferno, onde quem comia a cara viva do outro espojava-se na alegria da dor.
[...]
Onde, reduzidos a pequenos chacais, nós nos comemos em riso. Em riso de dor - e livres. O mistério do destino humano é que somos fatais, mas [...] de nós depende realizarmos o nosso destino. Enquanto que os seres inumanos, como a barata, realizam o próprio ciclo completo, sem nunca errar porque eles não escolhem. Mas de mim depende eu vir livremente a ser o que fatalmente sou.
[...]
Mas é que tornar-se humano pode se transformar em ideal, e sufocar-se de acréscimos... Ser humano não deveria ser um ideal para o homem que é fatalmente humano; ser humano tem que ser o modo como eu, coisa viva, obedecendo por liberdade ao caminho do que é vivo, sou humana. E não preciso cuidar sequer de minha alma [...]. 
Somos livres, e este é o inferno.
[...]
Eu conhecia a violência do escuro alegre - eu estava feliz como o demônio, o inferno é o meu máximo.
[...]
Só por uma anomalia da natureza é que, em vez de sermos o Deus, assim como os outros seres O são, em vez de O sermos, nós queríamos vê-Lo.
[...]
Eu caíra na tentação de ver, na tentação de saber e de sentir. Minha grandeza, à procura da grandeza do Deus, levara-me à grandeza do inferno. [...]
A tentação do prazer. A tentação é comer direto na fonte. A tentação é comer direto na lei. E o castigo é não querer mais parar de comer. [...] Eu procurava o mais orgíaco de mim mesma. Eu nunca mais repousaria: eu havia roubado o cavalo de caçada de um rei da alegria. Se adormeço um instante, o eco de um relincho me desperta. E é inútil não ir. No escuro da noite o resfolegar me arrepia. Finjo que durmo, mas no silêncio o ginete respira. [...] Todos os dias será a mesma coisa: já ao entardecer começo a ficar melancólica e pensativa. Sei que o primeiro tambor na montanha fará a noite, sei que o terceiro já me terá envolvido na sua trovoada.
[...]
Que fizemos nós, os que trotam no inferno da alegria? [...] Da última vez que desci da sela enfeitada, era tão grande a minha tristeza humana que jurei que nunca mais.
[...]
A noite é a minha vida, entardece, a noite feliz é a minha vida triste.
[...]
Provação: significa que a vida está me provando. Mas provação: significa que eu também estou provando. E provar pode se transformar numa sede cada vez mais insaciável. 
[...]
Oh Deus, eu estava começando a entender com enorme surpresa: que minha orgia infernal era o próprio martírio humano. Como poderia eu ter adivinhado? [...] É que não sabia que se sofria assim. Então havia chamado de alegria o meu mais profundo sofrimento."


[C. Lispector, em A Paixão Segundo G.H.]



sábado, 11 de janeiro de 2014

Bobeira é não viver a realidade...

"Eu não estou interessado em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Minha alucinação é suportar o dia-a-dia
Meu delírio é a experiência com coisas reais..." (Belchior)






Junkie

Você insiste por um fim
E acompanha o tráfego
E acompanha o tráfico
E vende a alma por diversão;
Nada é pior que o nada
Dos que esperam tudo,
Dos que não acreditam
Que o impossível é real.
Você insiste por um começo
Nem que seja de uma dor,
Nem que sinta tanta fúria...
E vende o corpo pela experiência,
Porque nada vale tanto
Que não tenha um preço
Para quem espera tudo
E não acredita em nada.




Lucidez

"Podem ser tão loucos quanto quiserem; Por Deus, ainda tenho minha própria honestidade  e minha própria alma! [...] Podemos estar quebrados, mas temos nossa honestidade e nossas almas! Não acho que nenhum de nós tem de se preocupar com o que fizemos em nossas vidas [...] 
Não é engraçado como você começa a vida achando que o mundo inteiro é um lugar bonito que está só à espera de que você percorra nele o seu caminho? É um sonho bonito que se tem quando se é jovem, antes de descobrir como alguns homens podem ser, como as coisas podem se quebrar. Mas se eu tivesse de viver tudo isso de novo, eu viveria! Viveria! Porque no fundo é uma vida doce! Ouçam esse garoto cantar _ vocês tem aí toda a beleza da vida reunida em uma única canção bonita, e o que mais se pode querer?"

(Jack Kerouac)  



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sem país, sem religião

Não posso ver o céu agora
Há muitas nuvens no céu e em minha memória
Hoje meu espírito é uma nuvem carregada
Carregada pelo vento
Parece que  a fatalidade chama meu nome
Mas eu sei que é só acaso
E eu não sinto medo de perder
E eu não sinto medo de errar
Todo o meu temor é por quem espera
Mais que a chuva que derramo
Ou que o sol que queima o mundo

Veja só no que me tornei
De tanto ir atrás do perigo
nesse mundo bandido
Eu sempre quis ser só mais um
Eu sempre quis ser multidão
E as vezes sou só indivíduo, individual
E as vezes me sinto única
O que torna tudo tão solitário

Veja no que nos tornamos
Enquanto o sol não vinha
Eu ainda espero a luz
Que vai me arrastar pela estrada tão dura
Não posso ver a estrada agora que estou voando
Não voo em bando
Mas não tenho medo (nem tenho rumo)
Hoje meu espírito é cigano
E está mais presente em você que em mim.




quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Canções de Liberdade

"Oh, você não vai me ajudar a cantar
Essas canções de liberdade?
Porque é tudo o que eu tenho..."


























quarta-feira, 4 de dezembro de 2013



"Nunca sentira algo igual antes - mas, mesmo assim, de alguma forma sabia que de agora em diante sempre se sentiria desse jeito, sempre, e algo entalou em sua garganta quando percebeu que aventura estranha e triste a vida podia ser, estranha e triste e ainda assim mais bela do que ele jamais poderia imaginar, tão mais linda e impressionante por ser, na verdade, tão estranhamente triste." - Jack Kerouac

No lado escuro da Lua...

tem dias que me sinto contagiosa e preciso me afastar. essa melancolia crônica, não lembro como surgiu. não me culpe por estar errada, as vezes os sentimentos são confusos,as vezes simplesmente não consigo controlá-los. vou de erro em erro, apenas estou tão cansada de lutar contra, contra cada ferrugem que está se formando em minha alma.e, deus, você não sabe como é duro, você não sabe como eu tenho tentado ser uma pessoa melhor, ser menos fraca. não desisti, baby, pelo menos saiba que eu estou tentando. enquanto estivermos aqui, vale a pena tentar... é tudo que temos.



terça-feira, 26 de novembro de 2013

Nenhuma Estrada está Errada


Eu não sei se é certo chamar isso de paixão... Mas não pode ser outra coisa o fogo que você acende em minha alma, e por mais que eu morra de vontade de dizer algo, estar por perto em silêncio já é bom. Você tem uma coisa que é só tua, que magoa por ser tão intensa, como uma paisagem que absorve toda a significância prepotente de um ser humano.
Ao mesmo tempo vejo todos os nossos defeitos, e eu gosto deles. Sei agora como tudo o que eu acho que faz sentido está lá, e que eu só preciso ter coragem de aguentar o preço para merecer o doce sabor que enebria e embriaga... 
Estamos entre os que são desesperadamente humanos para suportar as mesmices e os faz de conta, vamos em estradas que negam conforto, mas dão uma liberdade surpreendente.



segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cigarros, motocicletas e mais fumaça...



Vejo meu segredo exposto ali, vejo ele e sinto minha mentira pesar como nunca antes.. Não o suporto... É um irônico, cruel, cruel paradoxo que ri de mim como um demônio, atrás de seus olhos inocentes... Uma madrugada sozinho com pensamentos tristes e vergonhosos, eu não gosto muito, eu não gosto nada desse meu lado...
Não parece que é verdade, que este sou eu, de informações tão desencontradas... O que sou e o que pareço ser, e o que quero ser... Música lenta e sofrida em meus ouvidos, cinzas de cigarro por toda parte, garrafa de Whisky na mesa já quase vazia... Sei onde eu quero estar agora, e sei onde eu devia estar...
Quando eu era um garoto achava que podia tudo e agora a verdade está aí diante de mim como um abismo esperando uma queda, esperando que a parte de mim que é só um animal finalmente vença e dê o próximo passo.
Não há nada mais patético do que os homens lutando contra si mesmos...
Toda minha vaidade agora é  meio sem sentido, sou apenas um cara cansado, querendo finalmente parar com esta luta insensata.
Talvez se eu correr bastante, eu me perca em alguma rua, talvez a motocicleta seja capaz de me levar até onde eu me encontre, me afaste do tédio entre prédios sem identidade, na cidade onde há espaço pra tudo o que eu desejar... Eu sou muito jovem para ter medo. 


well, you know in the old days
when the young man was a strong man...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Meus Vinte Anos

Futuro incerto... Não perco mais tempo com pessoas distantes, não me apaixono por pequenos gestos, não me iludo mais. Desconfiança e dúvidas... Mesmo assim eu sigo.
Desisti de tentar concertar as coisas, apenas passo por elas cética e triste e cansada. Nada mais me surpreende, nada mais realmente me alegra. Acho que estou velha, só estou tentando sobreviver...
Se o sono tranquilo nunca mais virá, virarei a noite em claro; se o silêncio não é possível, também farei barulho; se a paz é apenas um nome, eu farei poesia. Desta vez, eu quero viver o que é e não o que deveria ser. 
Mas sei, meu bem, que essa sou eu, estranha e fria. Sei que essa é quem eu posso ser agora e que estou sendo sincera, mesmo não sendo, nem de longe, feliz. De repente felicidade é só uma luz que sempre foge e que nunca iremos alcançar completamente, porque o fogo apaga, e então temos que procurar de novo, no escuro...


"Mas não vou me sujar fumando apenas um cigarro,
Nem vou te beijar, gastando assim o meu batom.
[...]
No mais, estou indo embora..."

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Escuridão

“A noite é a única coisa entre todas que continuará existindo, mesmo depois da morte de todas as estrelas, mesmo com a morte de todos os universos, mesmo sem tempo nem espaço, restará, incólume, a noite… a noite nunca vai mudar...”

"Não demora por favor
Que eu só quero te encontrar
Pra te dar de volta
Tudo o que eu sonhei
Nesse tempo que eu passei a viver depois do fim
Eu me abrigo nessa noite escura
E as derrotas que eu embelezei
Minhas ilhas flutuando pelo ar
E as histórias que eu ainda vou contar
E depois da escuridão
Haverá um lindo sol
E a gente vai se amar
E a gente vai se amar
E a gente vai se amar"

Lobão..

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Gota D'Água


"Eles pensam que a maré vai, mas nunca volta. Até agora eles estavam comandando o meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando, recolhendo fúrias. Hoje eu sou onda solta e tão forte quanto eles me imaginam fraca. Quando eles virem invertida a correnteza, quero saber se eles resistem à surpresa, quero ver como eles reagem à ressaca."

[Trecho do monólogo de Joana em Gota D'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes]

Irreversível

O que estou fazendo?!
Tentando recuperar um velho retrato. Tentando ignorar que retratos são só lembranças, amor...  
O vento levou nossas palavras e muitos de nossos sonhos, talvez a minha esperança... 
Levou nossa inocência.
E eu ainda estou aqui tentando juntar os pedaços, porque sei que nada será tão intenso e tão puro e sincero novamente...
Eu quero de volta.
Eu quero você de volta.
Mas isso é como guardar flores mortas,
É como chegar fatigada de um dia difícil e perceber que não tem ninguém em casa.
Somos adultos agora. E isso é como um adeus...

sábado, 14 de setembro de 2013

Os Ninhos em Nossas Almas

Sinos me avisam sobre a redenção...
Oh, amor, compreenda que nessa vida é preciso ir adiante,
Mas venha comigo.
Temos muita energia pra gastar,
Muito amor pra doar...
Não me odeie, não me odeie, não me queira dentro de uma gaiola!
Podemos voar por esse céu imenso,
Vendo como a vida é grande
E como somos grandes também.
Somos gigantes, enfrentando tempestades...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Metamorfose

Odeio esse gosto amargo de cigarro em minha boca... Tão amargo quanto foi teu beijo, apenas mais um vício sem prazer. Esses meus esforços são apenas uma espécie de dança pra um teatro vazio.
Fui dominada pelo ceticismo de sempre querer provas e sempre querer provar, seja um veneno ou um doce néctar...
Acho que eu devia ter tido coragem pra fingir que te amo por mais tempo, porque ainda preciso de você. Mas a minha paranoia me fez por fogo em tudo ao te trair com a cruel verdade.
Eu não gosto de nada disso, como você imagina; eu só enfrento. Sei que ilusão é uma armadilha, sei que não quero viver assim. Escolhi passar pela dor sem anestesias. Meu organismo é capaz de suportar o sofrimento que vem em nossos DNA's, que é nossa natureza.
E não se engane, isso não é se render. Evitar a dor já é dor, e aceitá-la é a melhor maneira de ter o controle.
Eu sei que você não é inocente, que também nunca se entregou, nunca realmente acreditou em mim; com esse teu jeito cínico e covarde de fingir que está tudo bem... Eu nunca caí nessa. Você nem ao menos tem a decência de admitir que está com raiva, porque não quer enxergar quando a culpa também é tua! Será que você não percebe o quanto isso pode ser corrosivo?
Agora, estou lentamente me tornando você, apenas um Ego carregado de ''ismos''... Predatório, cruel e sem limites. O nosso instinto humano...
Sei que tenho uma postura muito ruim diante da vida e que não consigo me adaptar, como se a cada nó desatado surgissem dois... E você é só isso, um nó.
Então aceite estas palavras sinceras, com todo meu amor e meu ódio mais profundos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Only Pretty Lies...

"When you gonna realize they're only pretty lies?"

"I don't want nobody comin over to my table.
I've got nothing to talk to anybody about...
All good dreamers passes this away someday,
Hidin' behind bottles in dark cafes.
Dark cafes...
Only this darkness before I get my gorgeous wings
And fly away...
Only a phase, these dark cafe days..."