terça-feira, 29 de janeiro de 2013



Cuidado. 
A magia é menor do que aparenta;
A magia, na verdade, nem existe.
É apenas a beleza cruel da vida,
A beleza implacável da vida...
Mas não a subestime
Nem se entregue tanto.
Quanto mais mergurlharmos em suas maravilhas,
Mais vulneráveis estaremos aos seus venenos,
Mais distraidos às armadilhas de seus encantos...
Sim, ser feliz é perigoso.
Esteja sempre alerta a cada sorriso,
A cada brilho nos olhos,
A cada frio na barriga.
Cuidado.
O prazer é sempre uma faca de dois gumes;
A magia vem sempre com um preço.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Na Rua



...
viciada nos topos e poços da vida
vivendo num jogo de azar
sorte de quem sabe perder
e se entrega a queda desenfreada
e se entrega a loucura embriagada
e encontra a face real da vida
e sente o sabor agridoce do salto
e salta na jaula da sorte
se entregando ao deus acaso
jamais poderei ser novamente personagem
da peça tediosa do velho jogo banal
viciada em intensidade
viciada em estar no limite
meu cérebro é um motor sem freios
eu vou onde quero
eu saiu quando não posso
eu sei que tudo isso não me levará a nenhum lugar concreto
mas exatamente onde quero chegar
em lugar nenhum
onde a estrada será sempre curva
será sempre bela
será sempre uma surpresa de uma alegria ou uma tragédia sem precedentes
obrigada a você que também entende
que a loucura é o único caminho
que a liberdade, com toda sua dor e solidão, mesmo assim, é o melhor trajeto
para quem precisa sentir o sangue correr nas veias.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Uivo - Allen Ginsberg


Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela loucura, 
    morrendo de fome, histéricos, nus, 
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
    em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
    hipsters com cabeça de anjo 
ansiando pelo antigo contato celestial 
    com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
[...]

morreram ou
    flagelaram seus torsos noite após noite 
com som, sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
    álcool e caralhos em intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída...
[...]
tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos
    e lembranças e anedotas e viagens visuais e choques
    nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total 
    com os olhos brilhando por sete dias e noites,
[...]
no impulso da chuva de inverno na luz das ruas
    da cidade pequena à meia-noite,
[...]
que caminharam a noite toda com os sapatos cheios
    de sangue pelo cais coberto por montões de 
    neve, esperando que uma porta se abrisse,
[...]
que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos
    de apartamentos [...] à luz azul de holofote
    antiaéreo da luta 
e suas cabeças receberão coroas de louro no esquecimento,
[...]
que rabiscaram a noite toda deitando e rolando sobre
    invocações sublimes que ao amanhecer amarelado
    revelaram-se versos de tagarelice sem sentido
[...]
jogaram seus relógios do telhado fazendo seu
    lance de aposta pela Eternidade fora do Tempo 
    e despertadores caíram em suas cabeças por
    todos os dias da década seguinte...

que cortaram seus pulsos sem resultado três vezes
    seguidas...
[...]
enquanto você não estiver a salvo eu não
    estarei a salvo e agora você está inteiramente
    mergulhado no caldo animal total do tempo
[...]
para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa 
    humana. 

e ficaram parados à sua frente, mudos e
    inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados
    todavia expondo a alma para conformar-se ao
    ritmo do pensamento em sua cabeça nua e infinita,

o vagabundo louco e Beat angelical no Tempo, 
    desconhecido mas mesmo assim deixando aqui 
    o que houver para ser dito no tempo após a morte,

e se reergueram reencarnados na roupagem 
    fantasmagórica do jazz no espectro de trompa
    dourada da banda musical e fizeram soar o 
    sofrimento da mente nua da América pelo 
    amor num grito de saxofone [...] que fez com que as cidades tremessem
    até seu último rádio,
com o coração absoluto do poema da vida arrancado
    de seus corpos bom para comer por mais mil anos.


II

Que esfinge de cimento e alumínio arrombou seus
   crânios e devorou seus cérebros e imaginação?
[...]
Mentes! Amores novos! Geração louca! Jogados
   nos rochedos do Tempo!
[...]


III

Eu estou com você em Rockland
   onde você está mais louco do que eu
Eu estou com você em Rockland
   onde você deve sentir-se muito estranho
[...]
Eu estou com você em Rockland
   onde você ri desse humor invisível
Eu estou com você em Rockland
   onde somos grandes escritores na mesma
   abominável máquina de escrever
[...]
Eu estou com você em Rockland
   onde as faculdades do crânio não agüentam 
    mais os vermes dos sentidos
[...]
Eu estou com você em Rockland
   onde você grita de dentro de uma camisa de
   força que está perdendo o verdadeiro jogo
   de pingue-pongue do abismo
Eu estou com você em Rockland
   onde você martela o piano catatônico a alma
   é inocente e imortal e nunca poderia morrer 
   impiamente num hospício armado,
[...]
Ó vitória, esquece tua roupa
   de baixo, estamos livres!
Eu estou com você em Rockland
   nos meus sonhos você caminha gotejante de volta
   de uma viagem marítima pela grande rodovia que
   atravessa a América em lágrimas até a porta do
   meu chalé dentro da Noite Ocidental.