"Aí estava o mar, a mais ininteligível das criaturas não-humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava sangue. Ela e o mar.
Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões. [...]
Com a concha das mãos e com a altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheia de água, bebe-a em goles grandes, bons para a saúde de um corpo.
E era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem. [...]
Não está caminhando sobre as águas _ ah nunca faria isso depois que há milênios já haviam andado sobre as águas _ mas ninguém lhe tira isso: caminhar dentro das águas."
-- Trechos d'O Livro dos Prazeres, de Clarice Lispector.
Clarice Lispector é sem dúvidas uma boa referência como autoria!
ResponderExcluirVocê, Deriene, sempre, sendo o "sempre" demasiado interessante, desenvolve textos que tratam dos substantivos categóricos muito peculiares, muito subjetivos e diacrônicos. O homem enquanto contradição e mistério...
É, eu gosto tanto do que ela escreve, que as vezes é como se tivesse sido eu mesma! Esse livro em especial, é completamente encantador! Deu até vontade de escrever mais partes dele. Valeu por comentar aqui. bj
ExcluirA imagem não poderia ser outra! Fiquei bobo com a representação visual.
ResponderExcluir\o/ que bom, fiquei meio na dúvida pelo fato da mulher da imagem ser o próprio mar, depois me toquei que era exatamente isso. ;)
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