Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo
ansiando pelo antigo contato celestial
com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
[...]
morreram ou
flagelaram seus torsos noite após noite
com som, sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
álcool e caralhos em intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída...
[...]
tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos
e lembranças e anedotas e viagens visuais e choques
nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total
com os olhos brilhando por sete dias e noites,
[...]
no impulso da chuva de inverno na luz das ruas
da cidade pequena à meia-noite,
[...]
que caminharam a noite toda com os sapatos cheios
de sangue pelo cais coberto por montões de
neve, esperando que uma porta se abrisse,
[...]
que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos
de apartamentos [...] à luz azul de holofote
antiaéreo da luta
e suas cabeças receberão coroas de louro no esquecimento,
[...]
que rabiscaram a noite toda deitando e rolando sobre
invocações sublimes que ao amanhecer amarelado
revelaram-se versos de tagarelice sem sentido
[...]
jogaram seus relógios do telhado fazendo seu
lance de aposta pela Eternidade fora do Tempo
e despertadores caíram em suas cabeças por
todos os dias da década seguinte...
que cortaram seus pulsos sem resultado três vezes
seguidas...
[...]
enquanto você não estiver a salvo eu não
estarei a salvo e agora você está inteiramente
mergulhado no caldo animal total do tempo
[...]
para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa
humana.
e ficaram parados à sua frente, mudos e
inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados
todavia expondo a alma para conformar-se ao
ritmo do pensamento em sua cabeça nua e infinita,
o vagabundo louco e Beat angelical no Tempo,
desconhecido mas mesmo assim deixando aqui
o que houver para ser dito no tempo após a morte,
e se reergueram reencarnados na roupagem
fantasmagórica do jazz no espectro de trompa
dourada da banda musical e fizeram soar o
sofrimento da mente nua da América pelo
amor num grito de saxofone [...] que fez com que as cidades tremessem
até seu último rádio,
com o coração absoluto do poema da vida arrancado
de seus corpos bom para comer por mais mil anos.
II
Que esfinge de cimento e alumínio arrombou seus
crânios e devorou seus cérebros e imaginação?
[...]
Mentes! Amores novos! Geração louca! Jogados
nos rochedos do Tempo!
[...]
III
Eu estou com você em Rockland
onde você está mais louco do que eu
Eu estou com você em Rockland
onde você deve sentir-se muito estranho
[...]
Eu estou com você em Rockland
onde você ri desse humor invisível
Eu estou com você em Rockland
onde somos grandes escritores na mesma
abominável máquina de escrever
[...]
Eu estou com você em Rockland
onde as faculdades do crânio não agüentam
mais os vermes dos sentidos
[...]
Eu estou com você em Rockland
onde você grita de dentro de uma camisa de
força que está perdendo o verdadeiro jogo
de pingue-pongue do abismo
Eu estou com você em Rockland
onde você martela o piano catatônico a alma
é inocente e imortal e nunca poderia morrer
impiamente num hospício armado,
[...]
Ó vitória, esquece tua roupa
de baixo, estamos livres!
Eu estou com você em Rockland
nos meus sonhos você caminha gotejante de volta
de uma viagem marítima pela grande rodovia que
atravessa a América em lágrimas até a porta do
meu chalé dentro da Noite Ocidental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário