quinta-feira, 21 de junho de 2012

Às Nossas Ofensas

Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. [...] Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros cotraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. [...] Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

-- Clarice Lispector, no livro Uma Aprendizagem.


sábado, 16 de junho de 2012

Apenas Um Relato Sobre Empatia


Sua pele branca contrasta com os cabelos muito negros. 
Ele os deixa displincentemente desgrenhados, caídos sobre os olhos igualmente escuros, formando ondas que vão até o pescoço... Isso para emoldurar seu rosto de anjo mau, rosto de inocente malícia que parece estar sempre escondendo algum mistério, ou tentando dar o bote, como os gatos cujo olhar parece medo, mas no fundo é uma defesa de esfinge: "decifra-me ou devoro-te!"


Insinuação felina na preguiça elegante, no andar lento, no corpo flexível... Doce e sombrio...
É difícil entender seu estilo temperamental, que chega a ser destrutivo; sua alma agridoce...


Olho para aqueles olhos, e são como buracos negros que vão me sugar... Tudo que vejo é um convite irresistível do abismo... 


Quando ele fala daquela forma desconcertada e desconcertante, como quem não sabe onde quer chegar, com uma voz rouca e arrastada falando baixinho... Então sei que se trata apenas de beleza.


No entanto, sua força de atração esconde algo a mais... Porque a atração é sobrenatural.


Ele é um rebelde, porém não daqueles que gritam, que escadalizam como se este mundo lhes pertencesse. Sua rebeldia é silenciosa. Ele apenas tem o controle da própria mente, como poucos, ele é livre e realmente não teme o preço que vai pagar.
Ele não quer definir as regras, quer eliminá-las. Sabe viver o agora sem pressa, mas sem hesitação.


Não sei como sua mente funciona. Certamente é um desafinado no coro dos hipócritas, e nunca estará entre a maioria. Acredita que, de uma forma mórbida, sua missão é experimentar todas as dores do mundo.


No fundo, é como um animal que precisa de dono. Se você tiver um pouco de alimento, ele come em tua mão. Depois ele vai embora, como um gato, não adianta tentar prendê-lo. Ele só será teu enquanto quiser e precisar.





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quinta-feira, 14 de junho de 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Caçando Pipas

"Foi a muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, 
ele sempre consegue escapar."


"..., fiquei imaginando se era assim que brotava o perdão, não com as fanfarras da epifania, mas com a dor juntando as suas coisas, fazendo as suas trouxas e indo embora, sorrateira, no meio da noite."



-- Frases de "O Caçador de Pipas", de Khaled Hosseini.



Compensações

O dia foi bom,
Mesmo que eu tenha chorado à noite?
A vida é boa,
Mesmo que não possa ser melhor...
Aquele momento que era pra me esquentar,
Agora me faz sentir frio;
O que era pra preencher o meu vazio,
Me torna ainda mais vazia.
Não somos iluminados, não sabemos pra onde vamos...
Mas, eu sei, ela tem um segredo...
Mas, eu sinto, ela sente mais que os outros...
A menina dos olhos assustadores,
A menina que incendiava o caminho,
A menina que não era eu,
Mas que era parte do que eu sabia...
Não era iluminada e não sabia para onde ia,
Mas, como cães sem dono, nos acompanhávamos...
A vida é boa,
Mesmo sendo tão frustrante,
Já que as ideias são sempre mais bonitas que o real...
Mas não faz mal!
Pois, mesmo que eu tenha chorado à noite,
O dia foi bom.